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Sintomas neuropsiquiátricos podem estar associados à demência

No começo do mês, tive o prazer de conhecer (on-line) a médica Lilian Scheinkman, doutora em psiquiatria pela UFRJ, com pós-doutorado em psiquiatria geriát...

Sintomas neuropsiquiátricos podem estar associados à demência
Sintomas neuropsiquiátricos podem estar associados à demência (Foto: Reprodução)

No começo do mês, tive o prazer de conhecer (on-line) a médica Lilian Scheinkman, doutora em psiquiatria pela UFRJ, com pós-doutorado em psiquiatria geriátrica pela Universidade de Miami e professora adjunta da UERJ, onde é coordenadora da psiquiatria geriátrica do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Durante simpósio sobre Alzheimer realizado pelo centro de estudos da Rede D´Or, ela abordou uma questão tão relevante quanto pouco conhecida: os sintomas neuropsiquiátricos podem indicar uma manifestação precoce de demências. A psiquiatra Lilian Scheinkman, professora adjunta da UERJ Acervo pessoal Embora os sintomas cognitivos recebam maior atenção nas demências, os sintomas neuropsiquiátricos nesses quadros são bem conhecidos na literatura médica: delírios, alucinações, agitação ou agressão, depressão ou disforia (desconforto intenso e angústia), ansiedade, apatia, desinibição, alterações psicomotoras, comportamento noturno atípico (como permanecer acordado ou gritar à noite). No entanto, o que passa despercebido é que esses sinais e sintomas também podem ocorrer em pessoas que não foram diagnosticadas – e servem como um potente sinal de alerta, explica a psiquiatra: “Eles podem surgir em casos de comprometimento comportamental leve e se caracterizar como um marcador precoce de demências. Com frequência, sintomas como irritabilidade e tristeza são considerados apenas exacerbações de traços da personalidade ou reações ao envelhecimento. Outras vezes, o paciente recebe um diagnóstico psiquiátrico – por exemplo, de depressão – podendo ter a cognição preservada, ou algum déficit cognitivo considerado secundário à depressão. No entanto, a avaliação psiquiátrica cuidadosa e o acompanhamento próximo serão essenciais para uma melhor abordagem e o diagnóstico correto. O comprometimento comportamental leve está associado a uma maior conversão para o quadro demencial”. Scheinkman destacou que sintomas neuropsiquiátricos são altamente prevalentes nas demências, afetando até 97% dos pacientes, mas também se manifestam em até 50% daqueles com comprometimento comportamental leve (mild behavioral impairment, em inglês). Podem ainda estar presentes em pacientes com queixas cognitivas subjetivas – que percebem e relatam dificuldades em áreas como memória, atenção ou linguagem – e mesmo com a cognição preservada. E por que é tão importante levar esses distúrbios em consideração? “Doenças neurodegenerativas frequentemente ocorrem de forma combinada, como Alzheimer e Demência Frontotemporal, e alguns sintomas são comuns a todas. Isso se traduz em pior qualidade de vida para os pacientes, estresse e sobrecarga para os cuidadores, custos para o sistema de saúde e demanda por instituições de longa permanência”, explicou a professora. Segue aqui uma lista de sintomas neuropsiquiátricos que, quando surgem depois dos 50 anos, devem ser observados se forem persistentes, isto é, caso estejam presentes há mais de seis meses: Menor motivação (apatia) Desregulação do afeto (sintomas de humor e ansiedade) Descontrole dos impulsos Inadequação social Alteração da sensopercepção ou pensamento (delírios ou alucinações) Na opinião da doutora Scheinkman, a grande questão que envolve a detecção precoce dos sintomas neuropsiquiátricos é a possibilidade de alterar a trajetória da doença, talvez evitando ou retardando o declínio cognitivo: “há fatores de risco modificáveis, não podemos nos esquecer disso”, finalizou. Saiba mais sobre o Alzheimer, que é a forma mais comum de demência e não tem cura