De acidente na adolescência a palestras pelo Brasil: como mineiro transformou a deficiência em motivação
Após perder a mão em acidente, palestrante motiva com mensagens de superação Neste domingo (21), é celebrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiên...

Após perder a mão em acidente, palestrante motiva com mensagens de superação Neste domingo (21), é celebrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, uma data criada para reforçar a importância da inclusão, da acessibilidade e do combate ao preconceito. Em meio às discussões sobre políticas públicas e direitos, histórias individuais também mostram como apoio e oportunidade podem transformar vidas. Uma dessas histórias é a de Douglas da Guarda, mineiro de Divinópolis, de 57 anos, casado e pai de dois filhos. Aos 14, ele perdeu a mão direita e parte do antebraço em um acidente de trabalho, em um período em que era comum adolescentes começarem a trabalhar cedo. O trauma o levou ao isolamento e à depressão, mas também abriu caminho para uma virada: hoje, ele é técnico de segurança do trabalho, viaja o Brasil dando palestras e até leva a música como ferramenta de inspiração. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Centro-Oeste de Minas no WhatsApp O dia em que pensou em desistir Douglas da Guarda durante palestra para centenas de pessoas em auditório Douglas da Guarda/Arquivo Pessoal Um aniversário de 15 anos marcou um dos momentos mais dolorosos da adolescência. Ao tentar paquerar uma garota, a reação dela ao perceber sua deficiência foi correr. O constrangimento e a humilhação o levaram a pensar em tirar a própria vida. “Só não fiz porque minha mãe entrou no quarto, passou a mão na minha cabeça e rezou. Aquilo me salvou”, relembra. A importância da família também se manifestou na atitude do pai, que foi um pilar essencial. Na época, muitos acreditavam que ele deveria se aposentar por invalidez. "Meu pai não permitiu que eu aposentasse por invalidez. Ele foi contra muitas vozes que questionavam: ‘tadinho dele, como vai trabalhar, como vai se vestir, como vai dirigir?’. Mas meu pai acreditava em mim e não na deficiência”, contou. Graças a essa decisão, ele seguiu trabalhando e construiu uma trajetória que hoje lhe permitirá se aposentar por tempo de contribuição, e não por invalidez. LEIA TAMBÉM: Mineira supera depressão e alcoolismo e transforma lanchonete em pizzaria de sucesso DJ transforma desafio em lição de vida após pedalar mais de 4 mil km entre MG e o Uruguai Setembro Amarelo: saiba reconhecer os sinais da depressão e como buscar ajuda Setembro Amarelo: entenda os sinais da ansiedade e quando buscar ajuda Douglas da Guarda em sessão fotográfica de divulgação de seu trabalho como palestrante motivacional Douglas da Guarda/Arquivo Pessoal Uma oportunidade em forma de música Ao longo da vida, também surgiu o desejo de aprender a tocar saxofone. O primeiro professor que procurou o desmotivou, afirmando que seria impossível tocar o instrumento com apenas uma das mãos. “A deficiência chegou primeiro e não eu. Ele me julgou pela deficiência, sem me dar a oportunidade de tentar”, lembra. Algum tempo depois, encontrou outro professor, que teve uma visão diferente. Apesar de também não saber como adaptaria o instrumento, propôs que descobrissem juntos. Com uma folha de papel, uma lapiseira e uma fita métrica de costureira, ele pensou em criar uma adaptação em impressora 3D. Mas a surpresa veio quando Douglas pegou o saxofone: perceberam juntos que nenhuma adaptação era necessária. “Eu só precisava de uma oportunidade”, afirmou. Hoje, ele é aprendiz do instrumento e o leva consigo nas palestras. “Toco duas ou três músicas para motivar e incentivar as pessoas. Quero mostrar que a pessoa com deficiência não precisa ser super-homem para realizar determinada atividade, apenas de uma chance". Douglas da Guarda com o saxofone, instrumento que aprendeu a tocar mesmo após perder a mão direita em um acidente de trabalho na adolescência Douglas da Guarda/Arquivo Pessoal Entre a dor e a inspiração Do acidente que quase o levou à desistência até os palcos onde hoje fala para centenas de pessoas, a história de Douglas é marcada pela superação. Um tema que ele reforça sempre é a importância de procurar ajuda profissional. Em entrevista à TV Integração, Douglas destacou como a terapia pode ser fundamental no enfrentamento da dor e da depressão. Veja o vídeo abaixo. “Que possamos construir uma sociedade cada vez mais inclusiva, acessível e humana, onde todos tenham espaço para crescer, sonhar e realizar”, finalizou. Setembro Amarelo reforça importância da saúde mental Inclusão e direitos Especialistas lembram que, além do acolhimento familiar e das oportunidades, a legislação brasileira também garante mecanismos de inclusão. A Lei de Cotas (8.213/1991), por exemplo, determina que empresas com 100 funcionários ou mais reservem de 2% a 5% das vagas para pessoas com deficiência. Em concursos públicos, a reserva varia de 5% a 20%. A advogada Wandreiane Raphaela de Oliveira Cabral Melo destaca ainda direitos no dia a dia, como o passe livre interestadual e municipal, o atendimento prioritário e a possibilidade de emitir a identidade com indicação de PCD — o que facilita o acesso a serviços. Ela lembra que a Lei Brasileira de Inclusão reforça a educação como princípio fundamental e prevê adaptações em escolas e espaços públicos. “A falta de acessibilidade não está só nas rampas. PCDs querem ir a shows, cinemas, shoppings. É preciso consciência de que todos os espaços devem estar abertos para todos". *Estagiária sob supervisão de Mariana Dias VÍDEOS: veja tudo sobre o Centro-Oeste de Minas