Como tarifaço dos EUA derruba exportações de madeira do RS e ameaça milhares de empregos
Tarifaço inviabiliza exportações da indústria madereira do Rio Grande do Sul pros EUA A indústria da madeira do Rio Grande do Sul exporta mais de R$ 500 mi...

Tarifaço inviabiliza exportações da indústria madereira do Rio Grande do Sul pros EUA A indústria da madeira do Rio Grande do Sul exporta mais de R$ 500 milhões por ano para os Estados Unidos e é a mais dependente do mercado norte-americano no estado. Segundo a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), o setor emprega cerca de 16 mil pessoas, responde por 11% da receita líquida da indústria gaúcha em 2023 e concentra mais de um terço das exportações exclusivamente para os EUA. Com a nova tarifa de importação imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, empresas do setor começaram a cortar turnos, suspender contratos e paralisar linhas de produção. A medida já afeta milhares de trabalhadores e é reflexo direto da queda nas exportações, segundo representantes da indústria. 💡 Contexto: o tarifaço anunciado por Trump no início de agosto aplica uma taxa extra de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA. A medida busca fortalecer a indústria local e incentivar o consumo interno. As novas tarifas afetam diretamente setores brasileiros que dependem das exportações para o país, como madeira, café, carne bovina, frutas e pescado. "Estamos começando a colher os primeiros impactos concretos, a consolidação das estatísticas e das previsões na atividade econômica das empresas", aponta Giovani Baggio, economista-chefe da Fiergs. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Por que o RS é tão dependente dos EUA no setor? No estado, os itens mais afetados, como cercas de pinus, molduras residenciais e chapas compensadas, são fabricados quase que exclusivamente para o mercado norte-americano — que tem uma cultura de consumo diferente da brasileira e de outros países do mundo. Um exemplo claro é o das cercas de madeira. Por questão cultural, o produto é amplamente usado nos Estados Unidos, mas quase inexistente no Brasil. A produção nacional é voltada quase exclusivamente para o mercado norte-americano. "Aqui a gente usa concreto. Lá, todas as casas têm uma cerca nos fundos. Então não acontece essa substituição, o mercado interno é menor e precisamos da exportação", lamenta Leonardo de Zorzi, presidente do Sindicato das Indústrias de Madeira do RS (Sindimadeira RS). Ou seja, as tarifas extra aumentam o preço dos produtos brasileiros nos EUA, reduz a competitividade e faz com que os americanos comprem menos. O resultado? Menos exportação Em agosto, as empresas do Rio Grande do Sul que vendem madeira para outros países venderam 25% menos do que no mesmo mês de 2024, segundo a Fiergs. No geral, a indústria gaúcha teve queda de 19% nas exportações para os EUA após o tarifaço. O país era responsável pelo consumo de quase 28% de tudo que o setor exporta, e esse recuo representa uma perda de US$ 3,8 milhões só em agosto. Dificuldade para redirecionar exportação Em Cambará do Sul, a empresa Reflorestadores Unidos, maior empregadora da cidade, suspendeu temporariamente serviços terceirizados, reduziu turnos e concedeu férias. A companhia, especializada em cercas de madeira para casas nos EUA, busca novos mercados. A decisão impacta diretamente 340 funcionários e, indiretamente, cerca de 1.500 pessoas. Segundo o presidente do Sindimadeira RS, produtos manufaturados têm substituição mais lenta e enfrentam dificuldade para entrar em novos mercados. “Além disso, o volume conta: os Estados Unidos compram muito mais que outros países, que já estão abastecidos”, explica. "E o Brasil [mercado interno] não tem cultura voltada ao consumo da madeira plantada como os Estados Unidos têm", completa. Segundo o economista-chefe da Fiergs, conquistar clientes no exterior costuma ser um processo demorado, leva anos, especialmente quando se trata de produtos industriais mais sofisticados, feitos sob medida para cada mercado. Ou seja, mais um entrave para conquistar novos mercados de forma ágil. Em julho, houve aumento de 74,6% na quantidade exportada, mas os preços caíram 20,2%, indicando antecipação de vendas antes da tarifa. Em agosto, tanto os preços (-27,5%) quanto o volume (-13%) recuaram, segundo a Fiergs, como efeito direto das sobretaxas. Madeira no RS Reprodução/ RBS TV Impacto nos trabalhadores no Brasil Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), o tarifaço já provocou cerca de 4 mil demissões no Brasil. O levantamento considera o período entre 9 de julho, data do anúncio da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, e 15 de agosto. O setor inclui compensados, madeira serrada, pisos, molduras, portas, entre outros itens. E emprega 180 mil pessoas em todo o Brasil, com produção concentrada principalmente no Paraná e em Santa Catarina. Setores específicos também sofrem Alguns segmentos da indústria madeireira enfrentam impactos ainda mais severos. As serrarias que trabalham com madeira bruta empregam cerca de 7,7 mil pessoas no estado e exportam quase um terço da produção para os Estados Unidos — US$ 100,5 milhões dos US$ 339 milhões totais. Após o tarifaço, a Fiergs estima queda de 39% nas exportações. O setor de móveis com predominância de madeira emprega mais de 30 mil trabalhadores no RS e depende dos EUA para 18,3% das exportações — US$ 43,6 milhões dos US$ 238,3 milhões totais. Já a indústria de celulose, embora não faça parte diretamente do setor madeireiro, também sente os efeitos. Cerca de 14% da produção vai para os Estados Unidos. Mesmo com o produto na lista de exceções, empresas gaúchas anteciparam vendas como forma de proteção. "Muitas indústrias optam por exportar, mesmo com margem de preço apertada, mas relatam que não estão acontecendo novos pedidos", diz Baggio VÍDEOS: Tudo sobre o RS