Um bate-papo sincero sobre discos de Beto Guedes, Candeia e Gal Costa
Capas dos álbuns 'Sol de primavera' (Beto Guedes, 1979), 'Axé!' (Candeia, 1978) e 'Fa-Tal –Gal a todo vapor (Gal Costa, 1971) Reprodução / Montagem g1 ♫...

Capas dos álbuns 'Sol de primavera' (Beto Guedes, 1979), 'Axé!' (Candeia, 1978) e 'Fa-Tal –Gal a todo vapor (Gal Costa, 1971) Reprodução / Montagem g1 ♫ PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR ♬ Das centenas de notícias que chegam diariamente à minha caixa de e-mail (sim, o e-mail resiste firme e forte como meio de comunicação no mundo corporativo!), uma mensagem enviada na noite de ontem, 19 de dezembro, despertou minha imediata atenção. O e-mail anunciava a quinta edição do projeto Disconcertos, criado em 2013 pelo escritor e professor Luiz Fernando do Carmo de Azevedo, o Dodô Azevedo. Trata-se da audição de um determinado álbum com o compartilhamento de informações sobre a ficha técnica, histórias e impressões pessoais sobre esse disco. Gostei da ideia porque a música é um dos recheios da memória afetiva de qualquer pessoa. Desconheço alguém que não goste de música. Claro, há quem não tenha ligação tão visceral com a música (e os discos em particular) quanto a minha. Mas todo mundo ouve música em maior ou menor grau e é curioso observar o gosto de cada um. Na quinta edição do Disconcertos, sediada no centro cultural Futuros Arte e Tecnologia, no Rio de Janeiro (RJ), haverá encontros de Dodô com Barral Lima, Ana Paula Araújo, Luiz Antonio Simas e Viviane Mosé. Empresário de Beto Guedes, Barral Lima escolheu discorrer sobre o álbum Sol de primavera (1979), um dos títulos da fase áurea da discografia do cantor e compositor mineiro, no encontro agendado para as 19h da próxima quarta-feira, 24 de setembro. É curiosa a opção por esse álbum de 1979 cujo repertório destacou a música-título Sol de primavera, parceria de Beto com Ronaldo Bastos. Bela e poética, essa canção foi amplificada em escala nacional como tema de abertura da novela Marina (1980), trama esquecível exibida pela TV Globo no horário das 18h. Achei a escolha curiosa porque, em geral, o álbum mais cultuado de Beto Guedes é o anterior Amor de índio (1978). Em contrapartida, saber que a escritora e filósofa Viviane Mosé escolheu falar sobre Fa-Tal – Gal a todo vapor, emblemático álbum lançado por Gal Costa (1945 – 2022) no fim de 1971, deixa esse encontro (agendado para 10 de dezembro) menos atraente. Para mim, claro. É que muito já se falou sobre Fa-Tal. Existem álbuns de Gal que mereciam ser mais comentados, caso do roqueiro Caras & bocas (1977), para citar somente um exemplo. Mas entendo que o disco de 1971 gere mais memórias e conversas pela importância histórica que extrapola o universo musical pelo fato de o álbum também ter alcançado significado político no Brasil amordaçado de 1971. Fa-Tal, em última instância, foi um grito de liberdade de Gal, um brado de resistência em tempos ditatoriais. Antes da conversa sobre o disco de Gal, o historiador Luiz Antonio Simas joga luz sobre Axé! (1978) – título mais importante da discografia de Candeia (1935 – 1978), bamba e pilar do samba do Rio de Janeiro – em encontro agendado para 26 de novembro. Notei também que esses três álbuns brasileiros enfocados no projeto Disconcertos foram lançados ao longo dos anos 1970, década de grande expressão para a MPB e o samba (Ana Paula Araújo falará sobre coletânea de Madonna). Mesmo sob forte repressão, os cantores e compositores do Brasil fizeram grandes discos na década de 1970. Álbuns que merecem um bate-papo fino, elegante e sincero como os que parecem estar sendo propostos na quinta edição do Disconcertos.