Temporada de pinguins-de-magalhães começa no Litoral Norte de SP
Instituto Argonauta já registrou quase 50 encalhes em poucos dias. Especialista cita fatores que explicam aparecimento de juvenis debilitados nas praias. Técn...

Instituto Argonauta já registrou quase 50 encalhes em poucos dias. Especialista cita fatores que explicam aparecimento de juvenis debilitados nas praias. Técnicos resgatam pinguim-de-magalhães encalhado em Picinguaba, no Litoral Norte de SP O inverno chegou e, com ele, os primeiros visitantes ilustres das praias do litoral norte de São Paulo: os pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus). A espécie, nativa da Patagônia, costuma migrar anualmente para águas mais quentes em busca de alimento entre os meses de junho e setembro. Neste ano, os primeiros registros foram feitos pelas equipes de campo do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), executado pelo Instituto Argonauta. Ao todo, 47 pinguins juvenis foram encontrados encalhados nos municípios de Ubatuba (SP), Caraguatatuba (SP), São Sebastião (SP) e Ilhabela (SP). Quatro estavam vivos e foram encaminhados para reabilitação veterinária. Os demais foram recolhidos para investigação sobre a causa da morte. Pinguim em reabilitação veterinária no Instituto Argonauta Divulgação Instituto Argonauta De acordo com o instituto, não há como prever quantos indivíduos aparecerão ao longo da temporada. "Os números mudam a cada ano, levando em consideração o número de nascimentos, as correntes, a disponibilidade de alimento, entre outros fatores", explica Carla Beatriz Barbosa, coordenadora do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) pelo Instituto Argonauta. A presença dos juvenis na costa é considerada natural, mas preocupante quando em grande número e em condições debilitadas. A espécie realiza a primeira migração acompanhando correntes frias que sobem o Atlântico, e diversos fatores podem dificultar o trajeto. “Entre os desafios estão as mudanças nos padrões das correntes, a disponibilidade de alimento, a poluição e as doenças. Alguns animais não conseguem acompanhar o grupo e acabam se perdendo. Debilitados, saem da água e são encontrados nas praias”, afirma. Pinguim encalhado na Praia de Itaguaçu, em Ilhabela (SP) Divulgação Instituto Argonauta Além da distância percorrida e da inexperiência, os juvenis ainda enfrentam condições adversas que comprometem sua saúde. “Vários fatores podem determinar o estado dos animais encalhados, incluindo hipotermia, caquexia, anemia, infecções, parasitas e até a interação com lixo”. Suporte técnico e reabilitação A boa notícia é que, mesmo com chances reduzidas de recuperação, uma parte dos pinguins resgatados consegue voltar à natureza. “As condições em que os pinguins são encontrados no momento do resgate, em geral, já bastante debilitados, influenciam diretamente no prognóstico e nas chances de recuperação”, informa Carla. Pinguim-de-magalhães em reabilitação no Instituto Argonauta Divulgação Instituto Argonauta Ainda assim, as equipes de atendimento médico veterinário do Centro de Reabilitação e Despetrolização de Ubatuba e da Unidade de Estabilização de São Sebastião, instalações de atendimento do Instituto Argonauta no âmbito do PMP-SP, têm tido sucesso na reabilitação de 10% a 17% dos indivíduos recebidos, que são posteriormente devolvidos ao ambiente. O PMP-BS é um programa que monitora diariamente o litoral da Bacia de Santos, desde Laguna (SC) até Saquarema (RJ), como parte do licenciamento ambiental das atividades da Petrobras. No trecho entre São Sebastião e Ubatuba, o trabalho é feito pelo Instituto Argonauta, que também conta com infraestrutura especializada para o atendimento dos animais marinhos encontrados vivos ou mortos. Além dos pinguins, o inverno também é época de aparecimento de outras espécies migratórias. “São comuns os registros de lobos-marinhos, algumas espécies de pardelas e baleias-jubarte, que também exigem atenção especial”, acrescenta. O que fazer ao encontrar um pinguim? Os especialistas reforçam que, ao avistar um animal encalhado, a população não deve tocá-lo, alimentá-lo ou tentar devolvê-lo ao mar. A recomendação é manter distância e acionar imediatamente a equipe técnica pelo telefone 0800-642-3341. É importante lembrar que ações bem-intencionadas, mas inadequadas, como colocar o animal em caixas com gelo ou oferecer peixes, podem agravar ainda mais o quadro de saúde do pinguim. Educação e conservação Os animais que, após o processo de reabilitação, não podem ser reinseridos no ambiente natural são mantidos no Aquário de Ubatuba, parceiro do Instituto Argonauta. Além de garantir o bem-estar desses indivíduos, o espaço oferece ao público uma oportunidade de aprender mais sobre a espécie, por meio de atividades educativas e alimentação interativa. O Aquário também participou da produção do filme “Meu Amigo Pinguim”, baseado em uma história real, e cedeu seus animais para atuar nas filmagens. A obra retrata a amizade entre um pescador e um pinguim resgatado no litoral brasileiro. Batizado de “Dindin”, o animal foi acolhido com apoio do Instituto Argonauta. Apesar de não estar classificados como ameaçado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), os pinguins-de-Magalhães enfrentam ameaças crescentes ligadas à poluição marinha, sobrepesca e mudanças climáticas. Monitorar sua presença no litoral brasileiro é uma forma de acompanhar os impactos ambientais em curso e agir para minimizar os danos. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente