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IgNobel 2025 premia pesquisas sobre lagartos que roubam pizza, leite com gosto de alho e vacas pintadas como zebras

O IgNobel 2025, uma tradicional (e bem-humorada) premiação da ciência, foi entregue nesta quinta-feira (18) em Boston, nos Estados Unidos, a dez novos estudo...

IgNobel 2025 premia pesquisas sobre lagartos que roubam pizza, leite com gosto de alho e vacas pintadas como zebras
IgNobel 2025 premia pesquisas sobre lagartos que roubam pizza, leite com gosto de alho e vacas pintadas como zebras (Foto: Reprodução)

O IgNobel 2025, uma tradicional (e bem-humorada) premiação da ciência, foi entregue nesta quinta-feira (18) em Boston, nos Estados Unidos, a dez novos estudos vencedores. Os trabalhos, por mais inusitados que pareçam, foram publicados em revistas científicas de prestígio e mostram, segundo os organizadores do prêmio, como a curiosidade pode transformar situações triviais em descobertas que fazem rir antes de fazer pensar. Um dos artigos mais comentados da noite veio da África Ocidental. Nele, pesquisadores registraram lagartos arco-íris em um resort de Lomé, capital de Togo, subindo em mesas para roubar pedaços de pizza deixados por turistas. Com a pesquisa, eles descobriraram que os animais demonstraram preferência pela versão de quatro queijos da iguaria. O achado rendeu o prêmio de Biologia. IgNobel 2025: vaca pintada com listras pretas e brancas para imitar uma zebra, técnica que reduziu ataques de moscas e diminuiu o estresse dos animais. Kojima T, Oishi K, Matsubara Y, Uchiyama Y, Fukushima Y, Aoki N, et al. (2019) Já do Japão veio uma ideia criativa para reduzir o incômodo em rebanhos: pintar vacas com listras pretas e brancas, imitando zebras. O método diminuiu os ataques de moscas e até apontou para uma alternativa ao uso de pesticidas. O experimento foi reconhecido na categoria Agricultura. Outro estudo premiado mostrou que a dieta das mães pode alterar o sabor e o cheiro do leite humano. Ingredientes como alho, por exemplo, deixam marcas perceptíveis na bebida e chegam a mudar o comportamento dos bebês durante a amamentação. A pesquisa levou o prêmio de Nutrição. A pediatra norte-americana Julie Mennella, do Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia, foi uma das cientistas que conduziu o trabalho, considerado pioneiro nesse campo. Ao g1, ela explicou que, na época que o estudo foi feito (década de 90), a escolha do alho não foi por acaso: pesquisas anteriores já tinham mostrado que o aroma passava para o leite de vacas que se alimentavam da planta, alterando seu sabor. Por isso, a equipe quis investigar se o mesmo acontecia no leite humano. Os resultados surpreenderam. “Quando analisamos o comportamento dos bebês durante a amamentação, vimos que eles mamavam por mais tempo e sugavam mais quando o leite tinha sabor de alho — interpretamos isso como um sinal de que estavam apreciando o gosto”, disse. Por causa de pesquisas como essa, a brasileira Mercedes Okumura, professora da USP e integrante do conselho do IgNobel, defende que o prêmio é uma forma de valorizar a ousadia científica. “Muitas vezes, uma pesquisa que parece boba e não serve para nada pode resultar em contribuições importantes para o nosso conhecimento do mundo. O IgNobel serve justamente para chamar atenção para a criatividade dos cientistas”, disse ela em entrevista ao g1. Na Literatura, o homenageado foi o médico norte-americano William B. Bean (1909–1989), que durante 35 anos mediu, mês a mês, o crescimento de uma única unha do polegar. Ao longo desse tempo, ele publicou artigos relatando suas observações, que iam desde a velocidade de crescimento até variações ligadas à idade e a resfriados. Outros prêmios também foram distribuídos. Pesquisadores descobriram que morcegos-da-fruta egípcios voam mais devagar e emitem sons de ecolocalização diferentes após ingerirem frutas fermentadas — e conquistaram o prêmio de Zoologia. “Nossos experimentos indicam que os morcegos percebem alimentos ricos em etanol como tóxicos e, quando consomem, o voo fica mais lento. Um morcego mais devagar pode ser mais vulnerável a predadores — e, consequentemente, o álcool pode reduzir até o sucesso reprodutivo da espécie”, explicou ao g1 o pesquisador Francisco Sánchez, da Universidade de Los Llanos, na Colômbia. Morcegos-da-fruta egípcios, espécie usada no estudo premiado pelo IgNobel 2025, que analisou os efeitos do consumo de frutas fermentadas ricas em etanol. Francisco Sánchez Já um estudo indiano sobre o impacto do mau cheiro de sapatos na experiência de usar sapateiras foi reconhecido na categoria de Engenharia/Design. O artigo propôs soluções de ventilação para melhorar o produto. Na Psicologia, pesquisadores da Polônia e da Austrália mostraram que elogiar a inteligência de alguém pode inflar temporariamente o narcisismo, aumentando a sensação de ser especial. Já a categoria Linguística/Comportamento reconheceu um estudo que avaliou se pequenas doses de álcool ajudam na hora de falar línguas estrangeiras: a fluência nem sempre melhora, mas a confiança cresce bastante. Por fim, o prêmio de Medicina Alternativa foi para uma investigação sobre dietas improváveis, como a chamada “teflon diet”, que explorou limites curiosos da digestão humana e como substâncias inusitadas interagem com o corpo. “A maioria das pessoas pensa nos pesquisadores como sendo gente sisuda, pragmática, sempre de jaleco branco imaculado... mas a realidade da ciência é muito mais diversa", acrescenta Okomura. "Entendemos que a seriedade do que é fazer ciência não deve impedir um pesquisador de ser criativo, de ter senso de humor, de ser ousado. O prêmio serve justamente para repensar a ciência e lembrar que até perguntas aparentemente estranhas podem abrir caminhos para descobertas relevantes”. Veja por categoria os vencedores da 35ª edição: Literatura: O prêmio foi para o médico norte-americano William B. Bean (1909–1989), que durante 35 anos registrou meticulosamente o crescimento de uma única unha, publicando artigos ao longo de décadas sobre velocidade e variações desse processo biológico. Psicologia: Pesquisadores da Polônia e da Austrália foram premiados por demonstrar que elogiar a inteligência de alguém aumenta temporariamente seu nível de narcisismo e faz com que nos sintamos únicos e especiais. Biologia: Pesquisadores internacionais observaram lagartos arco-íris em um resort à beira-mar de Lomé, capital de Togo, na África Ocidental, roubando fatias de pizza de turistas — com clara preferência pela versão de quatro queijos, uma adaptação alimentar bem inusitada. Nutrição: O prêmio foi para a pesquisa que mostrou como a dieta da mãe altera o sabor e o cheiro do leite humano, influenciando o comportamento dos bebês durante a amamentação — do ritmo de sucção às reações às mudanças de gosto. Agricultura: Cientistas japoneses comprovaram que pintar vacas com listras pretas e brancas, imitando zebras, reduz ataques de moscas, diminuindo o estresse dos animais. O estudo também abre caminho para alternativas ao uso de pesticidas. Física dos alimentos: Uma equipe europeia investigou o tradicional molho italiano “cacio e pepe” e descobriu que a concentração de amido da água do macarrão é decisiva para evitar que o queijo empelote, identificando até uma “fase mozzarella” em que a receita desanda. Engenharia/Design: Dois pesquisadores indianos receberam o prêmio por analisar como o mau cheiro de sapatos afeta a experiência de usar sapateiras e por sugerir mudanças simples de ventilação para eliminar o problema. Zoologia: Um grupo internacional foi reconhecido por mostrar que morcegos-da-fruta egípcios voam mais devagar e têm a ecolocalização prejudicada depois de ingerirem alimentos com álcool, algo comum em frutas muito maduras. Linguística/Comportamento: O prêmio foi concedido a um estudo que investigou como o consumo de pequenas doses de álcool pode aumentar a fluência ao falar em línguas estrangeiras, mesmo que a confiança cresça mais do que a pronúncia correta. Medicina alternativa: Pesquisadores receberam o prêmio por examinar ideias improváveis sobre dietas excêntricas, apelidadas de “teflon diet”. Destaques das edições anteriores Veja abaixo os estudos premiados nos anos anteriores: 2024: IgNobel 2024 premia pesquisas sobre mamíferos que respiram pelo ânus, 'pombos-mísseis' e trutas mortas 2022: pesquisadores da USP ganham com pesquisa sobre sexo entre escorpiões 2021: barbas amortecedoras, baratas e chicletes mastigados 2020: brasileiro é um dos premiados por pesquisa sobre beijos e desigualdade de renda 2019: pizza contra câncer e estudo sobre temperatura do escroto 2017: música intravaginal, gatos líquidos e orelhas grandes de idosos 2016: efeitos do uso de calças de poliéster, algodão ou lã na vida sexual de ratos 2015: 'frangossauro' e teste com picadas de abelha no pênis