Festival premia filmes feitos com IA no Rio e provoca reflexão sobre o audiovisual; veja vídeo vencedor
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Initial plugin text Initial plugin text O curta 'Wondrous Tales – Chapter One', de Rodrigo Sotero, venceu a principal categoria do Rio Art Innovation Fair & Festival (RAIFF), no Rio de Janeiro. Veja o filme acima. Mais do que premiar uma obra, o evento marcou a estreia do primeiro festival brasileiro dedicado exclusivamente a filmes feitos com inteligência artificial (IA) e reacendeu o debate sobre como a tecnologia está transformando o audiovisual. A entrega do prêmio aconteceu na última segunda-feira (15), no UCI do New York City Center, na Barra da Tijuca. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça A vitória de Rodrigo, profissional da publicidade com mais de 30 anos de experiência, dono de dois Leões no Festival de Cannes, carrega um simbolismo enorme. Pela primeira vez, ele apresentou um projeto totalmente individual, sem a colaboração coletiva típica do mercado publicitário e sem o alto custo de produção de uma obra com a qualidade que ele alcançou. Festival de filmes feitos com IA premia curta no Rio e acende debate sobre futuro do audiovisual Divulgação RAIFF Em seu discurso, Rodrigo destacou que nenhum dos prêmios anteriores em sua carreira se compara ao reconhecimento no RAIFF. "Na publicidade, normalmente a gente respira muito junto com o criativo e na execução a gente acaba colaborando com a ideia de uma outra pessoa. Esse projeto aqui foi 100% do meu coração, de fazer algo despretensioso. Foi muito mais uma experiência de testar novas ferramentas, o que a IA traria hoje para o storytelling. E isso aqui pra mim já diz que eu estou no caminho", disse Rodrigo. Diretor de criação e especialista em efeitos visuais, Rodrigo é criador da plataforma Masters VFX, na qual ministra mentorias e consultorias sobre o uso de IA em produções audiovisuais. Segundo ele, a tecnologia é uma aliada para democratizar o mercado e abrir espaço para novas narrativas. Ao g1, Rodrigo contou que seu filme se passa na década de 1950 e mostra um palhaço se preparando para entrar no picadeiro. O personagem principal se mostra triste pelo distanciamento da filha. "Eu queria fazer um filme da relação pai e filha. Existe um paralelo, eu sou pai de uma filha única e tem muito da falta de tempo que eu tenho com ela. Eu sou filho de pais separados e tive as minhas emoções dessa falta também (...) Eu sou o cara que sempre estuda com ela (filha), gosto de estar junto, mas o trabalho me atrapalha nisso. E eu queria tocar as pessoas com essa história", contou. "O filme é sobre a perda. Tem nuances ali, como a garrafa de bebida caída. As pessoas perguntam: 'será que ele parou de beber, ou ele bebeu tanto que está ali?'. É um filme de reflexão, até com outros paralelos. Muita gente pergunta: 'Será que o cara perdeu um grande amor?'. Tem gente que não sabe se a filha morreu ou onde ela está, o que aconteceu. Foi surpreendente tocar as pessoas", relatou Sotero. O curta 'Wondrous Tales – Chapter One', de Rodrigo Sotero, venceu a principal categoria do Rio Art Innovation Fair & Festival (RAIFF) Reprodução Após vencer o prêmio principal com 'Wondrous Tales - Chapter One', o artista já planeja uma sequência para sua obra. "Esse é um filme da década de 50. Na sequência dele vamos vir com ele idoso, em 2025. Tá tudo escrito, estou desenvolvendo ainda. Mas é coisa pro ano que vem", adiantou Sotero. Democratização O festival reuniu trabalhos em três categorias — curta-metragem, comerciais e produções para redes sociais — e deixou claro que a IA não é apenas uma ferramenta técnica, mas um vetor de mudança na indústria do audiovisual. (Veja a lista dos vencedores no fim da reportagem). Thiago Pires, CEO da Costa Brava Studios e um dos idealizadores do RAIFF, destacou o alto nível das produções e reforçou que a IA não vai substituir profissionais, mas sim ampliar os horizontes de quem trabalha com criação. "O nível dos filmes ficou altíssimo, em todas as categorias. Não deixa nada a desejar pra quem tá produzindo internacionalmente", analisou. "A IA nunca vai substituir o ser humano. Provavelmente o autor dos filmes vai ser alguém que tem experiência na área. Vai ser um cineasta, um roteirista, um diretor de fotografia, um supervisor de efeitos visuais que vem do mercado de cinema, de publicidade e vai implementar isso com a IA", explicou. O filma 'The Cosmic Judge', de Leopoldo Joe Nakata, ficou com o 3º lugar na categoria Curta-metragem. Reprodução Italo Marsili, fundador da Faculdade Mar Atlântico e idealizador do festival, avaliou que o Brasil vive um momento estratégico. "Estamos no início de uma onda nova. Você não precisa de uma grande estrutura para montar um estúdio ou fazer uma produção de qualidade com IA. Com uma boa ideia e algumas ferramentas, dá para criar peças maravilhosas de casa", avaliou Marsili. Criador de 'Marisa Maiô' fala sobre a repercussão de programa criado com IA nas redes Para os vencedores de outras categorias, o efeito da 'democratização' com a IA é evidente. Rod Cauhi, premiado na categoria comercial com a obra 'Alma Rio: Sonhe Com O Carnaval', acredita que a tecnologia nivela o campo de jogo. "Estamos vendo a maior democratização do audiovisual. A técnica cada vez mais vai sair de evidência, e os mais criativos vão se destacar”, disse. Para Rodrigo Sotero, os artistas não vão perder postos de trabalho por conta da IA. Segundo ele, os profissionais do setor vão precisar aprender a usar as novas ferramentas. "Eu não vejo artistas perdendo espaço, a não ser que eles não se atualizem às ferramentas. A tecnologia está aí para democratizar o storytelling. Assim como aconteceu quando o 2D deu lugar ao 3D, agora a IA vai ampliar a capacidade criativa", analisou Sotero. O curta 'Wondrous Tales – Chapter One', de Rodrigo Sotero, venceu a principal categoria do Rio Art Innovation Fair & Festival (RAIFF) Reprodução O cineasta Dudu Simas, terceiro colocado na categoria redes sociais, autor do filme 'Metal Magic', reforça a ideia de que o uso de IA no audiovisual ainda engatinha, mas aponta muitos ganhos práticos. "Estamos na infância da IA. Muitas coisas ainda vão evoluir. Mas essa valorização do criativo é muito boa porque expande a capacidade das pessoas. Projetos caros ou difíceis de filmar podem sair da gaveta com essas ferramentas", comentou Simas. Questionado sobre a possibilidade da IA reduzir o número de profissionais envolvidos em uma obra audiovisual de grande qualidade, Dudu Simas acredita que a evolução já está acontecendo e que a IA vai trazer novas oportunidades para esses trabalhadores. "Ao longo dos anos, as ferramentas foram mudando, foram evoluindo. Antigamente a gente não conseguia fazer nada se não fosse na base do código. Então as ferramentas vão evoluir de qualquer forma. Você vai conseguir fazer coisas muito difíceis ou muito caras. Essa democratização vem da capacidade de produção que vai aumentar bastante. Novas oportunidades surgem, mais do que somem", ponderou Simas. "A Inteligência Artificial não se resolve somente com o prompt. Tem que ter o olhar humano e entender as conexões das ferramentas", completou Rodrigo Sotero. Nesse debate, Rodrigo também trouxe outro exemplo de evolução que simplifica a gravação de muitas cenas complexas do cinema: o drone. "Com o dinheiro que você gastava antes para pagar uma diária de um helicóptero, pra fazer uma filmagem aérea, hoje você compra um drone para usar pra sempre. Antes precisava de uma equipe gigante e hoje, não". "A IA vai baratear ainda mais. Uma cena sobrevoando uma fazenda, por exemplo, basta o cliente mandar uma foto do local por e-mail e a IA faz aquele movimento de câmera", explicou Sotero. Um novo marco Se para os organizadores o RAIFF é um marco inaugural, para Rodrigo Sotero a vitória simboliza uma virada pessoal. O reconhecimento marca a conquista de um espaço autoral após décadas de trabalhos colaborativos na publicidade. "Teve diretor super renomado que me ligou e perguntou: 'o que você filmou? Ali tem coisa que é real?'. Pra mim como artista é uma satisfação. Saber que eu consegui chegar nesse nível de realismo é surpreendente", comentou. A cerimônia de premiação do RAIFF aconteceu na última segunda-feira (15), no UCI do New York City Center, na Barra da Tijuca. Raoni Alves / g1 Rio Rodrigo também destacou a importância do Rio Art Innovation Fair & Festival (RAIFF) para os criadores brasileiros. Para ele, não se trata apenas de reconhecimento, mas de incentivo para os profissionais do setor. "É muito importante ter um festival focado nos profissionais do audiovisual, usando a IA, e ter sido o primeiro do Brasil. Quero destacar a relevância de festivais como esse para o mercado", pontuou. "Temos muitos bons profissionais aqui. Tendo mais iniciativas de eventos como esse, que fomentem a cultura e o audiovisual como um todo, é super importante para a evolução e para esse nivelamento, para a democratização dessas ferramentas", completou Rodrigo Sotero. Vencedores do RAIFF 2025: 🎥 Curta-Metragem 1º lugar - Wondrous Tales - Chapter One (2024) | Rodrigo Sotero 2º lugar - Iris (2025) | Thiago Amaral 3º lugar - The Cosmic Judge (2025) | Leopoldo Joe Nakata 📺 Comercial 1º lugar - Alma Rio: Sonhe Com O Carnaval (2025) | Rod Cauhi 2º lugar - Getnet. O Impulso para o seu negócio (2025) | Dimas Forchetti 3º lugar - Red Bull ClassiCS 2025 - Abertura Cinemática (2025) | Marco Guimarães 📱 Redes Sociais 1º lugar - Tiny Isometric Animations of Tiago Monteiro’s Ordinary Life (2025) | Tiago Monteiro 2º lugar - Versos Íntimos/Augusto dos Anjos (2025) | Gabriel Gil 3º lugar - Metal Magic (2025) | Dudu Simas Os vencedores de cada categoria do RAIFF receberam uma série de prêmios voltados para estimular a criação com inteligência artificial. Entre eles, uma licença anual da Tess AI, visita ao escritório do Google em São Paulo e cursos de certificação em IA oferecidos pela Faculdade Mar Atlântico. Além disso, os premiados foram contemplados com 2,4 milhões de créditos para utilização em ferramentas de inteligência artificial do Google — incentivo que pode ser decisivo para a continuidade de novos projetos no setor. O pacote de benefícios reforça a proposta do festival de não apenas reconhecer obras audiovisuais, mas também de capacitar os vencedores e dar condições para que avancem em suas trajetórias criativas. A realização do RAIFF foi organizada pela Tess AI e pela produtora Costa Brava, em parceria com empresas como Google, Pareto Group, FMA (Faculdade Mar Atlântico) e Olist.